A seca provocada pela estiagem prolongada dos últimos meses, e o avanço das queimadas vem preocupando os agricultores do Noroeste do Estado. A região é a mais castigada pela falta de chuva desde o fim do primeiro semestre deste ano.
Os dados mais recentes do Monitor de Seca da Agência Nacional de Águas (ANA), apontam que houve um avanço da seca fraca até a parte central do Espírito Santo, onde as chuvas foram ligeiramente abaixo da normalidade nos últimos meses e os indicadores de seca de curto prazo apresentaram piora.
Para o agricultor e pecuarista de Boa Esperança, Pablo Antunes Colle, os baixos volumes dos reservatórios de água preocupam. “A preocupação nossa é se a estiagem se prolongar. Os nossos reservatórios de água são pequenos e a gente busca fazer o mínimo com que o temos, buscando fazer um uso consciente dos recursos hídricos. Nós irrigamos nossa agricultura uma vez por semana, quando o ideal seria mais vezes, mas temos consciência da gravidade da situação. Se não chover nos próximos trinta a sessenta dias, teremos dias difíceis e a safra de café do próximo ano ficará comprometida”.
Segundo o técnico agrícola do Incaper, Ivanildo Schmith, que é mestre em agricultura tropical e especialista em gestão ambiental, no período de abril a setembro é comum que ocorra a diminuição da precipitação no Espírito Santo, mas faz um alerta. “É normal, mas é claro que a ação humana e o baixo orçamento [para a área], agravam o problema”.
“O aquecimento global está influenciando demais [no clima e no meio ambiente]. Os fatores climáticos estão acontecendo de forma mais rápida e imprevisível. Temos conscientizado os agricultores sobre a importância da preservação das nascentes, da implantação de um sistema de irrigação eficiente, mas a situação está no limite”, relatou.
Queimadas
O clima seco também tem favorecido para a ocorrência de queimadas em vários municípios da região Noroeste do Estado. Nesta quinta-feira (17), pelo menos três incêndios no interior de Nova Venécia, assustaram os moradores e trouxeram prejuízos aos agricultores. O fogo destruiu pastos, lavouras de café, plantação de eucaliptos e parte de uma área da mata atlântica. Segundo a Defesa Civil, cerca de 50 alqueires de propriedades já foram consumidos pelo fogo no município nos últimos dias.
No patrimônio do XV, o incêndio atingiu a fazenda de Taciana Valani. Segundo a tia dela, Adma Valani, a suspeita é que o fogo tenha começado a partir de um curto-circuito na fiação da propriedade. “Foi um susto muito grande. O fogo se alastrou rapidamente, chegou próximo das casas, destruiu a pastagem e plantações. Tive que retirar meus pais correndo com medo das chamas atingirem a casa. Tivemos a ajuda da Defesa Civil, e os moradores da comunidade se mobilizaram para evitar uma tragédia. Prejuízo enorme, e uma perca irreparável da fauna e da flora”.
Ela falou sobre a preocupação caso as chuvas não venham. “Tá um tempo muito diferente. Essa seca chegou rapidamente e de forma estranha. Os rios da região estão com seu nível muito baixo e estamos preocupados com isso”.
O tenente Davi Pedroza, do Corpo de Bombeiros de Nova Venécia, disse que esse período do ano reúne todas as condições para a ocorrência de queimadas e citou os principais desafios da corporação para combater esses incêndios. “É um período de muita seca, muito vento, onde a vegetação está muito seca e robusta. Isso facilita com que o fogo se propague rapidamente. O grande problema que a gente tem é o efetivo baixo e a questão de material. A gente não consegue atender todas as ocorrências”.
O militar do Corpo de Bombeiros também falou sobre a dificuldade de se controlar os incêndios típicos desse período. “É difícil controlar um incêndio desses, é difícil apagar, e muitas vezes não tem nem o que ser feito quando a vegetação está muito grande. Numa média, por ocorrência, a gente está apenas com três militares para dar conta de todos os incêndios da região. Outros dois ficam na ambulância, e se eu colocar esses dois no combate a incêndio em vegetação, a cidade fica sem ambulância para socorrer acidentes, e outras ocorrências. É complicado”.
Por: Wilson Rodrigues Nascimento