Desde 2010 o principal hospital estadual da região Noroeste do Estado, localizado em Barra de São Francisco, chamava-se, por força da Lei 9.444/2010, oficialmente, Dra Rita de Cássia, médica humanitária, que morreu num acidente de carro, em 17 de maio de 1982, quando viajava entre Vitória e Barra de São Francisco, junto com a família. No mesmo acidente morreram seus dois filhos.
O marido, Alceu Melgaço Filho, igualmente médico, também estava no veículo e sobreviveu, gravemente ferido, para continuar a missão de cuidar da saúde das pessoas, principalmente aquelas que demandam o serviço público.
Até 13 de junho de 2011, quando, vitimado por uma embolia pulmonar, Alceu Melgaço também morreu. Agora, seu nome substitui o da mulher e o Hospital Estadual de Barra de São Francisco chama-se “Dr Alceu Melgaço Filho”.
A homenagem foi prestada pelo deputado Enivaldo dos Anjos (PSD), que propôs Projeto de Lei aprovado pela Assembleia Legislativa e transformada na Lei 10.776/2017, sancionada pelo governador Paulo Hartung (PMDB) e publicada no Diário Oficial do Estado do Espírito Santo desta quarta-feira (6 de dezembro).
O nome da Dra. Rita de Cássia, porém, continuará eternizado no “Pronto Socorro Dra Rita de Cássia”, anexo ao hospital, proposto pelo Projeto de Lei 275/2017, também de autoria de Enivaldo, na Assembleia Legislativa.
VOCAÇÃO
“Em toda sua vida o Dr. Alceu Melgaço Filho prezou pela defesa de um sistema de saúde eficiente e gratuito para a população de Barra de São Francisco e de toda a região.
Ele fez da Medicina um instrumento de defesa dos mais humildes, sendo lembrado até hoje em dia pelo tratamento humano que dispensava a todos, independente de classe social. Agora, eles estão juntos, com seus nomes batizando os principais pontos para onde acorre a população que mais precisa da saúde pública”, disse o deputado Enivaldo dos Anjos.
Alceu Melgaço Filho foi diretor-geral por seis anos do hospital que agora denomina, e diversas vezes seu diretor clínico. Sua vida sempre foi dedicada à medicina pública e gratuita, sonho que alimentava desde seus tempos de estudante, quando militava nos movimentos estudantis (estava no histórico XXX Congresso da União Nacional dos Estudantes realizado no sítio Muduru, em Ibiúna-SP, quando mais de mil estudantes foram presos em 13 de outubro de 1968, em plena ditadura militar).
Durante dez anos consecutivos (a partir da gestão de Enivaldo dos Anjos em 1989, passando por todo o governo do prefeito José Lauer, seu sucessor), Alceu Melgaço Júnior comandou a saúde do município, implementando projetos nos quais acreditava, como vacinação massiva da população infantil, assistência materno-infanfil e programas de saúde voltados para a saúde das gestantes e também dos idosos.
Criou programas de assistência no interior, similares aos atuais Programas de Saúde da Família, e acompanhava os programas de saneamento básico da administração municipal, do qual era um dos principais mentores junto aos prefeitos da época.
Mais um testemunho é dado pelo deputado Enivaldo dos Anjos: “Alceu era uma pessoa marcada por tragédias pessoais. Foi vitimado pela paralisia infantil e, depois, pelo grave acidente de carro que lhe tirou sua primeira família.
Apesar disso, era uma pessoa entusiasmada pela vida e com ativa participação na política do município. Não fosse sua relutância, certamente seria prefeito da cidade, mas ser médico, principalmente das crianças, sua especialidade, era o que mais gostava de fazer”.