
Os diretores da Samarco, responsável pela barragem que rompeu na cidade de Mariana (MG), foram ouvidos nesta terça-feira, 17/11/2015, pela comissão da Assembleia Legislativa que acompanha os danos causados pela tragédia ambiental em solo capixaba.
A reunião que tinha tudo para ser um palanque à empresa, logo após as declarações do presidente da Casa, Theodorico Ferraço (DEM), em que tratou a empresa como vítima, acabou se transformando em uma saia justa para os executivos. Isso graças à intervenção do deputado Enivaldo dos Anjos (PSD), que cobrou a responsabilização dos envolvidos e a omissão de ação da Samarco diante do incidente.
No início da reunião, o diretor comercial da mineradora, Ricardo Carvalho, expôs as providências tomadas pela empresa em consequência da onda de lama com rejeitos de mineração, que chegou ao Estado nessa segunda-feira (16) – mais de dez dias após o rompimento da barragem de Fundão, Minas Gerais, no último dia 5.
Inicialmente, os questionamentos dos deputados eram todos relacionados às ações da empresa para garantir o abastecimento de água nos municípios capixabas atingidos – Baixo Guandu, Colatina e Linhares. Tudo transcorria de forma tranquila, sem qualquer tipo de desconforto para a empresa, que causou o que é já considerada um dos maiores catástrofes ambientais do País, até que surgiu a intervenção de Enivaldo.
“Como vocês ficam surpresos com isso [rompimento da barragem]? Não dá para entender como uma empresa como a Samarco pode ficar surpresa quando ela constrói um depósito de resíduos que pode explodir e ir parar no rio.
Qual é a lógica de vocês se encontrarem diante de uma tragédia ambiental e se mostrarem surpresos?”, afirmou Enivaldo, único entre 14 parlamentares presentes que não sentou à mesa. Fez todas as críticas em pé.
Neste momento, o diretor da Samarco tentou justificar o rompimento da barragem de Fundão como um acidente, no que foi logo retrucado por Enivaldo: “Foi falta de responsabilidade da empresa. Vocês são criminosos por aquilo que causaram no Espírito Santo e Minas Gerais. Cadê a responsabilidade social de uma empresa do porte da Samarco?”, questionou.
Essa fala de Enivaldo havia sido antecipada pelo mesmo desde a última semana em pronunciamento da Casa, quando cobrou a prisão dos dirigentes da mineradora, entre eles, do diretor-presidente Ricardo Vescovi de Aragão, que, segundo o colega de diretoria, está acompanhado todos os fatos relacionados ao caso, diretamente na região de Mariana.
O debate entre Enivaldo e o diretor da Samarco não foi mais longe após uma discreta intervenção de Ferraço, que recomendou ao presidente da comissão, Josias Da Vitória (PDT), a continuidade na fala dos deputados. No entanto, após essa saia justa com Enivaldo, o clima do encontro já não era tão ameno.
O diretor da empresa, ladeado pelo assessor de relações externas, Fernando Kunsch, passou a ser questionado sobre a possibilidade do rompimento de outras barragens em Minas, além da qualidade da água no rio Doce após a passagem da lama.
De acordo com Carvalho, as barragens de Santarém e Germano não correm risco de rompimento, apesar de rachaduras terem sido encontradas no local. “Não existe qualquer risco”, afirmou, muito embora a mesma empresa tenha garantido que nunca foi alertada sobre qualquer falha na barragem que rompeu. Ele preferiu evitar ainda falar sobre a responsabilidade ou planos para recuperação ambiental.
O diretor anunciou que foi contratado um instituto internacional para comandar esse trabalho. “Por hora, nossa prioridade é com o trabalho humanitário”, repetiu. Sobre a qualidade da água, o diretor usou um laudo feito por uma companhia mineira nas águas de Governador Valadares sobre a possibilidade de tratamento e do uso normal pela população.
Ele questionou os resultados do exame feito por um laboratório particular, contratado pelo Serviço de Água e Esgoto de Baixo Guandu, que revelou a presença de substâncias tóxicas na água. Carvalho chegou a sugerir que a água poderia ter sido contaminada por outras atividades, ignorando completamente o fato de que a mortandade de peixes e espécies animais segue o caminho da onda de lama ao longo do curso do Rio Doce.
O diretor também foi questionado sobre os trabalhadores da Samarco, que concedeu licença remunerada e depois vai dar férias coletivas até janeiro para mais de três mil trabalhadores – 85% da força de trabalho.
Carvalho afirmou que não sabe sobre o futuro da empresa. Mas reforçando o discurso de vítima do incidente, tão defendido por Ferraço, ele afirmou que a mineradora só volta a operar após ter o “apoio da população”. Entretanto, Carvalho adiantou que a empresa atualmente tem condições de operar normalmente, fazendo a compra de minério de outros fornecedores.
Neste momento, Enivaldo já não estava mais presente à reunião – ele saiu logo após sua intervenção –, mas fica a impressão de que o caos ambiental provocado é apenas um mero detalhe. A previsão é de que a onda de lama chegue ao município de Colatina hoje. Ainda não há uma estimativa de quando os rejeitos de mineração vão chegar a Linhares, último município antes de a lama chegar ao mar.
Fonte: Século Diário