Para tentar reduzir esse número alarmante, prefeitura inicia nesta segunda (12) um cerco sanitário com testagem em massa em todos os distritos
A Covid-19 continua provocando um desastre em Barra de São Francisco: nos últimos 40 dias, o número de óbitos dobrou, de 70 para 141 mortes até a madrugada desta segunda feira (12)..
Para tentar reduzir esses números, o município inicia nesta segunda-feira (12) um cerco sanitário com testagem em massa em todos os distritos. A 140ª vítima foi sepultada neste domingo (11), com uma grande carreata e não poderia ter sido mais emblemática: o professor Márcio Andrade, 50 anos, até o ano passado diretor da Escola Família Agrícola Normília Cunha de Azeredo.
A morte de Márcio causou um forte impacto na comunidade local. “A gente passa a vida quase toda escrevendo, mas alguns acontecimentos nos limita a capacidade de escrever e expressar a tristeza do momento”, desabafou nas redes sociais o secretário de Administração da cidade, Elcimar de Souza Alves.
A morte do professor é um retrato vivo da tragédia que se abateu sobre o município neste início de ano. Em março, a cidade já havia registrado um crescimento de mais de 600% nos óbitos em relação a fevereiro: 43 a 7.
Houve dia em que oito pessoas morreram e as funerárias fizeram fila na porta do Hospital Dr. Alceu Melgaço Filho (HDAMF). O mês de abril não está muito diferente disso e, em apenas 11 dias, já morreram 27 pessoas, levando ao sinistro registro de 70 mortes nos últimos 40 dias, a mesma quantidade de pessoas que morreram desde o início da pandemia, em março de 2020, até fevereiro deste ano.
Se continuar morrendo gente, o secretário Gustavo Lacerda, da Saúde, prevê: “Vamos bater mais uma vez o recorde de forma muito triste”. Mas há pelo menos uma boa notícia: pela primeira vez desde meados de março, quando a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) determinou a transformação do HDAMF em referência para Covid, está sendo percebida a redução da demanda por internações no hospital.
“Já é reflexo da instalação do novo Centro de Atenção a Pacientes de Covid, numa antiga unidade de ensino à distância da Uniube. Estendemos o período de atendimento para todos os dias da semana e temos 50 leitos para os primeiros procedimentos a pacientes que chegam com sintomas.
O que estava acontecendo é que as pessoas eram enviadas para casa, pioravam e não procuravam ajuda. Quando chegavam ao hospital, já estavam em estado muito grave”, disse Gustavo.
O CAP Covid funcionava antes em instalações improvisadas no chamado “pavilhão da saúde”, mas o descontrole dos números de março levaram o prefeito Enivaldo dos Anjos (PSD) a decidir ocupar o prédio de 1,5 mil metros da Uniube.
“Com a união de servidores e da comunidade, e doações que chegaram também de Vitória, conseguimos em sete dias colocar o novo centro para funcionar”, disse Enivaldo. Houve ligeira queda de 8,5% na média diária de pessoas atendidas pelo novo centro nos 11 primeiros dias de abril em relação ao mesmo período no final de março, mas é cedo para comemorar, disse Gustavo.
Na segunda quinzena de março, houve um aumento de 108% no número de pessoas que procuraram o centro de atendimento em relação à primeira quinzena.
Apesar da explosão de casos na segunda metade do mês passado, a média diária deste início de abril está 15,8% maior que a média de março inteiro. Monitorando dia a dia os números da Covid, as autoridades sanitárias municipais enfrentam, por isso mesmo, desafios novos diariamente.
Município epicentro da nova cepa inglesa no Estado, Barra de São Francisco recebeu na quinta-feira, do Laboratório Central (Lacen) da Sesa, a preocupante informação de que 58 novos casos da variante do Reino Unido foram identificados entre as pessoas cujos testes para Covid feitos no município deram resultado positivo.
A partir dessa informação, começou uma quase “operação de guerra” da Vigilância Sanitária municipal para localizar essas 58 pessoas e fazer um severo monitoramento e cerco sanitário. De acordo com a coordenação do setor, neste domingo todos já estavam devidamente localizados e monitorados.
Outra boa notícia: nenhum deles teve agravamento da doença, que tem se mostrado com um alto índice de letalidade, atingindo principalmente pessoas mais jovens. Uma boa notícia de um lado, uma ruim de outro.
Ao mesmo tempo em que a procura pelo Centro de Atenção a Pacientes teve um aumento muito grande neste domingo, chegando a haver uma superlotação logo de manhã, os resultados dos testes rápidos acenderam sinal de alerta: de 68 testes, deu resultado negativo para 62, uma anormalidade.
“Já havíamos notado uma quebra do padrão no sábado e a deste domingo foi ainda mais preocupante. Notificamos a Secretaria de Estado de Saúde, que imediatamente recolheu não só os nossos, mas todos os testes distribuídos no Espírito Santo do mesmo lote e fez a substituição por novos testes de outro fabricante. Vamos refazer os testes de todos os pacientes deste final de semana e usaremos também o novo teste em nossa campanha interior, para termos mais segurança”, disse Gustavo Lacerda.
Por: Leonel Ximenes (gazetaonline)