
Recebi uma mensagem do radialista e hoje militando no setor de mídia eletrônica, (leia-se Gazeta do Norte.com), meu amigo Luiz Carlos Gava, onde o mesmo solicita que eu descreva, minha passagem pela Rádio São Francisco AM, 1470 KHz.
Meu compadre Nahum Soeiro detinha uma parte das ações da emissora que tinha Enivaldo dos Anjos e o José Laurindo Pimenta, o Pimentão e outra acionista, como proprietários da rádio que tinha uma audiência qualificada na ocasião em que aqui cheguei em fevereiro de 1989.
Assumi a direção da São Francisco AM, época em que havia ainda os estúdios montados para ter operador e locutor. Enivaldo havia ganhado as eleições no ano anterior e iniciava sua trajetória de mandato político administrando do município pela primeira vez.
Por lá encontrei o saudoso Nilson Rangel, que fazia a parte sertaneja, abrindo a emissora e iniciando a programação diária. Depois seguia uma sequência de programas religiosos notadamente os de linha evangélica e me recordo entre os pastores que comandavam programas o Pastor Ramon. Depois o Luiz Carlos Gava comandava o Programa Enivaldo dos Anjos, já que o titular estava agora prefeito e não havia tempo hábil para comandar o programa que levava o seu nome e que ficou no ar por muito tempo, inclusive quando surgiu a rádio FM dos Anjos, hoje Barra FM.
A programação mesclada ainda com programa evangélicos, chegava no período vespertino com locutores como Sérgio Fernandes, Admilson Brum e inclusive eu comandando o programa Saudades não tem Idade, onde recordávamos músicas inesquecíveis.
Levei pra emissora ainda o Baianinho que pela manhã fazia programa na Jovem Barra FM e insisti para que o João Profiro aprendesse a operar os equipamentos para comandar um programa ao seu estilo focando no sertanejo.
Com reformulação na programação, também reformulamos os métodos de trabalho, eliminando de vez o operador, para que a emissora economizasse para investir em equipamentos, deixando o estilo de locução semelhante aos estúdios de FM, onde a figura do coadjuvante – o operador – parou de existir.
Muito agradeço ao Zé Linguiça, que nos auxiliou na eliminação de alguns equipamentos obsoletos, que só serviam para gastar energia e nada acrescentar a qualidade de áudio, já precariamente sobrecarregando o transmissor, que ficava lá na propriedade do saudoso senhor José Estevão.
Não foram as vezes em que o sinal era interrompido pelas descargas elétricas, já que via cabos (fios especiais para a telefonia), levavam da rua Astrogildo Romão dos Anjos até as terras do Zé Estevão, o sinal do estúdio ao transmissor, fielmente guardado por um senhor de quase dois metros de altura, (saudoso Zé Peixoto), que lá cultivava uma horta e adorava criar passarinhos. Fiquei seis meses na emissora.
Como diretor, quitei dívidas de energia elétrica, telefone e água, bem como os funcionários, também graças a patrocínios adquiridos com a nova programação e fornecedores da Prefeitura Municipal que querendo fazer média com o Enivaldo, nos atenderam com comerciais.
Entre os projetos vale destacar as transmissões esportivas, tendo Nilo Abreu comandando a resenha, Geraldo Oggione nos comentários e Zé Carlos e Gavinha nas reportagens de campo e vestiários. Com a programação “bombando” e incomodando até a frequência modulada 91,9 MHz, bastou colocarmos faixas pelas vias, declarando que detínhamos um grande número de ouvintes, para que logo nos qualificássemos como doidos.
Após 180 dias, Nahum Soeiro vendeu sua parte da emissora e eu, apesar de receber convite para ficar, voltei para Colatina, por entender que a missão que fui incumbido, já havia concretizado e assim deixava a emissora agora com nova direção. Depois que retornei para Barra de São Francisco, fui estrear na Jovem Barra FM e quando de lá sai, voltei a fazer programas na Rádio São Francisco AM, ainda localizada na rua Astrogildo Romão dos Anjos e depois sobre a Farmácia do também saudoso Nem Belo, até que Enivaldo ganhou a concessão da FM dos Anjos, quando retornamos para colocar no ar, a emissora que operava em 106,9 MHz, tendo ao lado os estúdios da pioneira Rádio AM, retornando para a rua Astrogildo Romão dos Anjos.
A rádio São Francisco AM nos acompanhou até para o novo endereço, onde hoje se localiza as emissoras do Grupo Faustino de Comunicação. Ela, inclusive chegou a ser uma das filiadas da Rádio Globo RJ e só deixou de existir por força da legislação federal que extinguiu serviço de radiodifusão local por onda média, onde estão as emissoras AM, foi determinada pelo Decreto 8.139/13.
O espectro de onda média regional e nacional continuou existindo, mas às emissoras locais foi dada a opção de migrar para a faixa FM. Fiz grandes amigos (as) durante as oportunidades em que estive a frente dos microfones da inesquecível Rádio São Francisco AM. Aprendi a conviver com pessoas simples, educadas, apaixonadas pela programação e que nos davam sempre o prazer de recebê-las quando estas iam nos entregar cartas, solicitando canções, parabenizando aniversariantes e as vezes contando um pouco de suas vidas.
Aos meus colegas que hoje estão afastados da locução e que as vezes nos encontramos, sempre haverá carinho quando nos referimos ao prefixo 1470 KHZ dá muito querida e estimada Rádio São Francisco-AM.
Texto: Carlos Madureira, ex-diretor e locutor da emissora